A filha da esperança.
Dona Valda é aquele tipo de senhora que o tempo parece ter amiudado. Os anos passam e ela fica menor de tamanho. Dizem que um dia, se tivermos a sorte de a velhice nos chegar, isso acometerá a todos nós. Crescer para diminuir. Mas dona Valda tem uma razão além do tempo. Sacolas. Sempre duas. Enormes. Cheias de coisas. Uma em cada mão. Pra lá e pra cá. E um sorriso tão vistoso quanto os cabelos brancos presos por um lápis preto. Dois passinhos, um "olá". Mais dois passinhos, um "oi, meu fi". Outros dois passinhos, um "tudo bom, minha fia?". Mais dois passinhos, um "bom dia, como vai você?". Até dona Valda alcançar quem lhe compre mercadorias. Até as tais sacolas esvaziarem. É sempre começo de mês quando ela entra nas salas e gabinetes de um certo palácio onde não há príncipes, princesas, reis ou rainhas. Entre uma investida e outra, o descanso numa cadeira de corredor. Uma aguinha. E, se alguém a notá-la e oferecer, um cafezinho. Quase nunca...