en.xer.gar
olha para o espelho e não se enxerga. está ali, mas não se vê. não é cega. apenas reconhece outra pessoa. o reflexo é qualquer uma, menos ela própria. e quase sempre recebe a graça de "uma senhora". "aquela senhora."
aponta e sorri.
tenta contato, às vezes.
só às vezes.
não sabe quem é.
somente que "aquela senhora" está sempre bonita.
sempre simpática.
sempre agradável.
e sempre olhando pra ela.
"a gente tem que falar baixo, que é pra ela não escutar". o pedido vem acompanhado de um sorriso moleque. assim segue no retrovisor do carro. "aquela senhora está olhando pra gente."
no elevador.
"o vestido dela é tão chique."
no porta-maquiagem.
"tão jeitosinha, né, ela?".
no quarto, após o banho.
"eu conheço essa senhora de algum canto; só não lembro d'aonde."
há hora em que lembrar é a mais desimportante das coisas. não deixar morrer a memória é que é o importante. e as memórias mais fortes não ficam na cabeça. ficam no peito. no coração. lá é o depósito das boas vidas. das ruins também, ela sabe. mas prefere as boas, fazer o quê?
acostumou-se a enxergar o lado bom.
en.xer.gar.
porque ver, bom, ver qualquer um consegue.
e existe um abismo entre um e outro.
o lado que ela está é que a difere d'uma multidão.
e o lado não é do de cá ou o de lá do espelho. porque elas duas, a que enxerga e a "aquela senhora", são uma só, no fim das contas. interessa é que entre o ver o bom e o enxergar o bom há um mergulho no qual poucos saem da superfície. poucos são os hábeis.
quase todos morrem afogados.
chafurdando as recordações colecionadas num álbum de fotografias, longe de espelhos, ela até se reconhece. lembra da maior das miudezas. do detalhe da toalha de mesa do jantar com o amigo do pai na casa do amigo da mãe. chora por isso, por ele, por ela, a mãe, pelo tempo que não retrocede, implacável como é, e por si.
é quando se reencontra.
é quando dá um mergulho demorado.
pra voltar em busca de ar, afundar, subir, afundar, subir...
até não se reconhecer de novo diante do próprio reflexo.
aponta e sorri.
tenta contato, às vezes.
só às vezes.
não sabe quem é.
somente que "aquela senhora" está sempre bonita.
sempre simpática.
sempre agradável.
e sempre olhando pra ela.
"a gente tem que falar baixo, que é pra ela não escutar". o pedido vem acompanhado de um sorriso moleque. assim segue no retrovisor do carro. "aquela senhora está olhando pra gente."
no elevador.
"o vestido dela é tão chique."
no porta-maquiagem.
"tão jeitosinha, né, ela?".
no quarto, após o banho.
"eu conheço essa senhora de algum canto; só não lembro d'aonde."
há hora em que lembrar é a mais desimportante das coisas. não deixar morrer a memória é que é o importante. e as memórias mais fortes não ficam na cabeça. ficam no peito. no coração. lá é o depósito das boas vidas. das ruins também, ela sabe. mas prefere as boas, fazer o quê?
acostumou-se a enxergar o lado bom.
en.xer.gar.
porque ver, bom, ver qualquer um consegue.
e existe um abismo entre um e outro.
o lado que ela está é que a difere d'uma multidão.
e o lado não é do de cá ou o de lá do espelho. porque elas duas, a que enxerga e a "aquela senhora", são uma só, no fim das contas. interessa é que entre o ver o bom e o enxergar o bom há um mergulho no qual poucos saem da superfície. poucos são os hábeis.
quase todos morrem afogados.
chafurdando as recordações colecionadas num álbum de fotografias, longe de espelhos, ela até se reconhece. lembra da maior das miudezas. do detalhe da toalha de mesa do jantar com o amigo do pai na casa do amigo da mãe. chora por isso, por ele, por ela, a mãe, pelo tempo que não retrocede, implacável como é, e por si.
é quando se reencontra.
é quando dá um mergulho demorado.
pra voltar em busca de ar, afundar, subir, afundar, subir...
até não se reconhecer de novo diante do próprio reflexo.
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